Berserker
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۞ ADM Berserker



Os Vikings foram os mais famosos guerreiros da Idade Média. Famosos por suas empreitadas pelo mar seja atacando vilas e mosteiros pela Europa ou navegando para fins pacíficos de comércio ou colonização em outras partes do mundo. No tocante à guerra, além de seu conhecido navio (popularmente chamado de drakkar, dragão), uma arma tecnológica que lhes concedeu vantagem sobre os outros povos, os especialistas acreditam que eles tiveram outro importante elemento que explicaria seu imenso sucesso nas batalhas. Trata-se dos guerreiros de elite conhecidos pela designação de BERSERKER.

Existem duas explicações atuais para este nome. A mais coerente diz que seria “camisa de urso” (do nórdico bear), e a outra “sem camisa” (do nórdico bare). Seja como for, talvez as duas possam ter coerência mútua. A ligação com o urso provém do simbolismo e da importância deste animal para as tribos de origem germânica, desde a antiguidade. E a segunda explicação, sem camisa, refere-se ao fato dos berserkers não usarem nenhuma proteção nas batalhas, como veremos a seguir.

A principal característica dos berserkers seria sua fúria incontrolável e assassina. Muito antes dos Vikings, um cronista latino chamado Tácito já se referia a guerreiros entre os germanos que possuíam estas características, que, aliás, eram muito louvadas por sociedades que dependiam totalmente da guerra para sobreviver.


Desde o século 18 os estudiosos tentam explicar esse comportamento frenético dos berserkers (chamado de berserkergang). Uma das explicações mais populares, principalmente após os anos 1960, era a de que utilizavam alucinógenos (o cogumelo Fly acaris, por exemplo, comum entre os xamãs da Lapônia) ou bebidas alcoólicas. Testes químicos e experimentos com voluntários reproduzindo situações de batalha concluíram que os efeitos colaterais derivados da ingestão destes produtos (náuseas, vômitos, tonturas), em vez de ajudar, acabaram prejudicando as ações humanas. Atualmente, portanto, são teorias descartadas.

Mas afinal, o que ocasionava o furor destes soldados medievais? As respostas vieram principalmente de duas explicações, relacionadas entre si. A primeira é relacionada ao culto do antigo deus Odin. Segundo o cronista islandês Snorri Sturluson, os berserkers eram devotados fiéis a esta divindade. Seria, portanto, a sua fé em um deus xamânico, que privilegia a magia, o êxtase e a metamorfose humana em animais, que explicaria esse comportamento na famosa descrição de Snorri da Saga dos Ynglingos (escrita no século 13 D.C.): 
“Os homens de Odin avançam para as frentes sem armaduras, onde tão loucos como cachorros ou lobos, mordem seus escudos, são tão fortes quanto ursos ou bois selvagens, matam pessoas com um só golpe e nem o ferro nem ou o fogo os detêm”
Escolhendo como totem pessoal o urso ou lobo (no caso dos guerreiros chamados de Úlfhedinn), estes guerreiros cultuariam a Odin através de danças e rituais portando máscaras animais e armamentos. Várias placas-amuletos encontradas na Escandinávia mostram cenas de homens vestindo peles (inclusive cabeças de lobo) e dançando numa espécie de êxtase. Outra fonte, escrita pelo imperador bizantino Constantino II (Livro das cerimônias), descreve uma “dança gótica” de soldados vestidos com peles e usando máscaras de animais, realizada por membros da guarda varangiana. Esta tropa consistia de mercenários suecos que prestavam serviço em Constantinopla (Bizâncio).

A teoria da possessão espiritual também encontra eco em outras fontes literárias da Escandinávia. Na Saga dos Volsungos, de caráter lendário, o pai do famoso herói Sigurd (o Siegfried alemão), Sigmund e seu outro filho Sinflioti, em dado momento da narrativa agem como lobos, habitando uma floresta e até assassinando pessoas. Isso parece coincidir com o comportamento do guerreiro Bovdar Bjarki (descrito na Saga de Hrolf), que trabalhava para o rei Kraki da Dinamarca. Quando ele saia para o campo de batalha, transformava-se em um imenso urso, enquanto sua forma humana ficava em casa e parecia dormir. Isso está relacionado ao hamr (alma, forma) e afylgja (forma espiritual que acompanha cada humano). Na religiosidade Viking, a hamr de um ser humano poderia se transformar em um animal e também estava relacionada à crença nos lobisomens (hamrammr, homens que viram lobos).


A segunda explicação para o frenesi dos berserkers e em consequência, no seu sucesso perante as batalhas, advém de causas puramente psicológicas. O pesquisador Peter Woodward, no programa Conquista da BBC, testou essa teoria. Em primeiro lugar, o tipo de equipamento mais usado por estes guerreiros era o machado, uma arma somente de ataque e sem defesa operacional, como a espada. Um soldado na frente de batalha, sem nenhum tipo de proteção (armadura ou escudo), gritando, urrando, dançando e atirando o próprio corpo contra os inimigos sem nenhum medo, causa um efeito psicológico devastador: é a agressão em estado puro, terrivelmente assustadora. Esse estilo suicida extremista fez os berserkers entrarem para a história da guerra.

Até agora só examinamos estes guerreiros no campo de batalha. Mas e na sociedade Viking? Qual o seu papel? Por um lado, eles eram admirados e muito requisitados. Faziam parte da guarda real de muitos reinos da Escandinávia e até de tropas de elite no exterior, como foi o caso de Bizâncio, como já comentamos ou na atual Rússia. Todas as expedições de pirataria ou em exércitos com formações maiores, contavam com grupos de berserkers, prontos para a ação. Para o referencial da elite aristocrática, eles eram muito valorosos e necessários, atingindo um status privilegiado na sociedade. Mas para o camponês, o pequeno proprietário ou fazendeiro do tempo da Escandinávia Viking, eles representavam coisas muito ruins. Loucos, agressivos, perigosos, com excessos sexuais, enfim, vários elementos presentes nas Sagas mostram esse outro lado que encontravam na sociedade. Por serem psicologicamente instáveis, muitas vezes eram de poucas amizades, em outras ocasiões eram banidos das pequenas comunidades (especialmente depois de assassinatos). Um caso exemplar é o relatado na Saga de Egil Skallagrímsson. Vindo de uma família de berserkers (o pai: Skallagrím, careca feia, e o avô, Kveldi-Úlf, lobo do entardecer), Egil acabou tendo uma vida muito violenta. Em certa ocasião, já em sua casa e sem nenhum motivo aparente, foi tomado por um frenesi descontrolado, matando a criada após atacar o filho. Percebemos, então, que os berserkers ficavam possessos não somente em batalhas, sendo temidos também pelos próprios Vikings.


Estes intrépidos guerreiros deixaram seu legado para a história, sendo hoje um nome associado ao furor no inglês moderno (berserk) e integrante de romances, jogos de vídeo-game, quadrinhos e desenhos japoneses, além de várias produções cinematográficas. Os Vikings certamente ainda irão proporcionar muitos momentos de inspiração para a arte e o imaginário.


O culto a Odin

Odin foi a principal divindade dos guerreiros e aristocratas, sendo um deus da poesia, da morte, das batalhas e da magia. Perdeu um dos olhos para obter mais conhecimento mágico. Andava sempre com dois lobos e dois corvos ao seu lado, além de sua lança Gungnir. Um dos rituais para Odin envolvia periodicamente a imolação de prisioneiros de guerra, geralmente enforcados (em referência ao seu auto-sacrifício na árvore Yggdrasill) ou espetados com lanças. O principal local de seu culto parece ter sido a ilha de Gotland, no báltico sueco, com centenas de estelas funerárias representando símbolos e imagens relacionados ao Valhala, além de esculturas reproduzindo Odin em seu cavalo Sleipnir. O seu nome também estava associado ao furor no nórdico (Ódr) quanto no germânico antigo (Wodan) e somado ao fato da crença de que os melhores que morressem em batalha iriam servir a Odin em seu palácio (Valhalla), explica tanto a devoção quanto o frenesi nas guerras.

Técnicas de guerra entre os Vikings

Às táticas militares utilizadas normalmente em unidades pequenas (a exemplo do “partindo como um Viking”, os ataques surpresas pelo mar), previam o uso da oportunidade e detalhado conhecimento sobre o inimigo. Uma empreitada bem sucedida requeria boa inteligência, segurança e coragem. A estratégia da guerrilha, desta maneira, foi utilizada com eficiência pelos Vikings em situações que envolviam poucas pessoas. Segundo o historiador Paddy Griffith, as chaves do sucesso para operações nórdicas teriam sido: operações com escassos feridos no ataque, mobilidade e rapidez na sua execução e armamento.







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