Mitologia
Futakuchi-Onna
O nome origina-se da junção de três kanjis que significam "dois", futa, "boca", kuchi e "mulher", onna. Futakuchi-Onna pertence à família do yokai (demônio). Tem a aparência de uma mulher que e sob os cabelos, um pouco acima do pescoço, tem uma segunda boca totalmente funcional (com os lábios dentes e língua). Normalmente é uma boca comum, mas de acordo com a crença geral, muitas vezes se mostra com um aspecto muito mais arrepiante e grotesco: dentes afiados e um tamanho desproporcional.
A segunda boca tem vida própria, pois está possuída por um espírito vingativo que atormenta sua dona, gritando ou xingando se não for alimentada ou se a comida não lhe agradar, e se isso ocorrer a boca possuída ainda pode manipular o cabelo da mulher como se fossem hábeis tentáculos para conseguir o alimento que desejar. Segundo a lenda, ter essa boca secundária é uma forma de punição/castigo para as mulheres que não se alimentam corretamente e conseguentemente desenvolvem distúbios alimentares ou àquelas que são egoístas em relação aos alimentos e comem compulsivamente.
Como outras criaturas mitológicas de aparência humana, Futakuchi-Onna muitas vezes passa despercebida por aqueles com quem convive, e geralmente é descoberta depois de uma ou mais pessoas a perceberem que os alimentos estão desaparecendo misteriosamente em um ritmo alarmante, já que a segunda boca come o dobro que a sua anfitriã.
Como já foi dito, e isso é o que é mais assustador sobre a lenda, a boca da Futakuchi-Onna tem consciência própria e pensa, ou, para ser mais preciso, o espírito rancoroso que a possui pensa... Por isso, esta boca vivente não só pode gritar, xingar e manipular o cabelo das mulheres, mas também é capaz de forçá-la a cometer quase qualquer tipo de ação, até mesmo um crime, e torturá-la psicologicamente se ela se recusar a fazê-lo, murmurando constantemente e avivando o sentimento de culpa na mulher "jogando-lhe na cara" a falta de moral que a levou a ter uma segunda boca e se tornar um monstro...
O avarento
Esta história é passada de geração em geração como uma advertência para mesquinhez.
Conta-se que a muito tempo, vivia em uma cidade um artesão muito trabalhador que já estava passando da idade de ter esposa e filhos, ele vivia bem financeiramente porque renunciou casar-se, não porque ele era muito religioso ou porque não gostava de mulheres, mas porque produziu uma aversão profunda a idéia de ter que manter uma mulher e sustentar uma boca a mais... Seu dinheiro era seu dinheiro! Era o dinheiro que conseguia com seu esforço, e não queria compartilhar com ninguém, desejava desfrutar de tudo sozinho e com uma boca a mais certamente não poderia.
No entanto, tudo mudou quando um dia apareceu na cidade uma nova habitante, que chegou sozinha, sem marido, pai, filho, ou qualquer tipo de parente. A mulher tinha a pele lisa e branca como a neve, cabelos longos e sedosos, e seu rosto inundado de uma beleza digna de ser retratada pela mão de um pintor habilidoso. Ao vê-la o artesão ficou encantado, ele desejou-a com intensidade, a queria para sí. Depois de dois dias ele percebeu que ela comia muito pouco, tão pouco que tendo-a em casa, implicaria num gasto econômico insignificante comparado ao bem estar que àquela companhia traria. Assim, o artesão começou a cortejar a bela moça até que finalmente a convenceu a casar-se e levou-a para morar com ele.
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Inicialmente tudo era alegria, pois ela era uma companheira agradável e divertida, e além do mais o artesão estava muito feliz devido aos rumores do pouco que ela comia. No entanto, o tempo passou e o homem percebeu que seus estoques de alimentos estavam em declínio de forma misteriosa, e em quantidades que era como se, além de si mesmo e da esposa, duas pessoas estavessem morando na casa, no entanto ele sabia que não tinha sido roubado pois vigiava muito bem suas posses, não tinha como alguém ter entrado em sua casa. Então, será que sua esposa estava comendo a reserva quando ele não estava?... Isso foi difícil de acreditar, porque ela era tão magra quanto quando ele a conheceu, e já deveria estar como um lutador de Sumô se comesse tanto. Mesmo assim ele decidiu espioná-la para acabar as suspeitas, então certa manhã ele fingiu ir trabalhar, mas ficou em casa escondido.
O que viu o deixou sem palavras, horrorizado, e teria gritado se não temesse perder a vida. E ali, em cima da cama onde dormia muitas noites com aquela mulher de pele branca como marfim, havia uma coisa inimaginável, horrenda, o que ele não conseguia entender era como não havia percebido? Como não sentia àquilo quando suas mãos tocavam a cabeça dr sua esposa? Era uma enorme boca, língua, dentes e lábios, a boca viva que sua esposa tinha na parte de trás da cabeça, pouco acima da nuca. A boca murmurava coisas que ele não conseguiu ouvir, mas deviam ser acusações pois sua esposa chorava com feições de remorso enquanto a boca controlava seus cabelos como se fossem tentáculos, a mulher levantou e caminhou até as panelas de arroz, a boca viva usou seus cabelos para pegar uma colher e engolir a comida vorazmente...
Foi a coisa mais assustadora que já viu em toda sua existência, e uns dias depois pensou em se divorciar de sua esposa, mas a segunda boca presentiu a intenção do artesão e o surpreendeu na banheira, levando-o para as montanhas para matá-lo, mas ele conseguiu escapar e se escondeu entre as plantas e a água esverdeada de um pântano, onde permaneceu até a sua mulher diabólica desistir e ir embora.
Esta é a versão mais conhecida. Em outra ela o encontra e o mata devorando lentamente o rosto do pobre homem.
Porque se tornam uma Futakuchi-Onna?
Há quatro versões sobre a origem da segunda boca que caracteriza esses monstros, cada um pode ser considerado uma lenda individualmente, embora todos têm pontos em comum.
A mulher que não come: Hoje é chamado de "anorexia", mas sempre houve mulheres que se privavam de comer para se manterem magras: assim, quando gravemente doentes, às vezes, eram punidas por forças sobrenaturais. O castigo: aparecer uma boca consciente que as obrigassem a comer.
A mulher que não alimenta os enteados: Dizem que quando uma madrasta não alimenta seus enteados e só alimenta sua própria descendencia, é severamente punida. Se sua conduta provocar, direta ou indiretamente (tornando-o mais propenso a ficar doente e não pode ser recuperar de uma doença), a morte de um enteado ou enteada. Então cai sobre si uma terrível maldição em que o espírito do enteado (a) falecido entra em sua cabeça fazendo crescer uma segunda boca para comer muito mais do que lhe foi negado na vida.
Essa crença está relacionada com uma história comovente, no qual uma madrasta malvada tinha uma filha e uma enteada. A filha ela tratava bem, alimentava em abundância, e ao enteado era dado somente o suficiente para evitar a morte, mas isso foi debilitando a saúde da criança, que ficava constantemente doente e um dia veio a falecer. Cerca de 49 dias (o tempo máximo em que a alma está em vida após a morte antes de reencarnar, de acordo com o budismo), a madrasta começou a sentir uma dor terrível nas costas e sentia um buraco em sua cabeça, parecia estar abrindo, algo estava crescendo, e às vezes ela ouvia a voz da enteada em sua cabeça, até que um dia acordou e deparou-se com uma boca enorme onde estava sentindo dor. A boca falou com a voz da enteada porque foi possída pelo seu espírito, sedento de vingança, exigiu comida em uma quantidade muito maior do que lhe deu em vida.
Mãe egoísta: Semelhante à versão anterior, uma crença diz que a maldição da boca consciente também recai sobre qualquer mãe, ou mesquinho, ou guloso. Alimentam-se fartamente, mas para seus filhos não dão quase nada para comer, levando-os a ficar doentes e consequentemente à morte. O espírito do filho falecido volta para assombrá-los sob a forma de uma boca na parte de trás da cabeça.
Esposa do lenhador: Esta versão está relacionada a uma história particular em que um lenhador estava cortando uma árvore, um dia, sua esposa apareceu de repente e ele inadvertidamente cortou-a acima do pescoço. Isso não matou a mulher, mas a ferida que nunca cicatrizou, e uma boca viva cresceu no lugar da ferida.
Fonte - Medo Sensitivo
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