Gilgamesh, Rei dos Heróis da Babilônia
Mitologia

Gilgamesh, Rei dos Heróis da Babilônia


۞ ADM Berserker
"Quero ao país dar a conhecer aquele que tudo viu que conheceu os mares, que soube todas as coisas, que analisou o conjunto de todos os mistérios, Gilgamesh, o sábio universal que conheceu todas as coisas: ele viu as coisas secretas, trouxe o que estava escondido, e transmitiu-nos o saber mais antigo que o Dilúvio."
(Epopeia de Gilgamesh - Tábua I, 1-6)

Gilgamesh, cujo nome significa "o velho que rejuvenesce", foi um rei sumério que viveu e governou em Uruk (antiga cidade que se situava a 270 km a sul de Bagdade), foi o maior de todos monarcas mesopotâmicos, distinguindo-se dos demais chefes das cidades da Suméria pela coragem e sucesso nas suas iniciativas. Um homem de caráter semi-lendário que ficou conhecido em todo o mundo por ser o personagem principal da Epopeia de Gilgamesh. 

Em suas lendas, o Rei-herói é sempre descrito como sendo um semideus dotado de força sobre humana. Era superior a outros semideuses por ser dois terços deus e um terço homem, devido ao fato de ter sido gerado em útero divino, pois sua mãe era a deusa Ninsuna (ou Nimat Ninsun) e seu pai o sacerdote e antigo rei de Uruk, Lugalbanda. Dela, Gilgamesh herdou grande beleza, força e inquietude. Dele herdou a mortalidade.



Segundo a Lista de reis da Suméria, um antigo texto sumério datado da Idade do Bronze, Gilgamesh foi o quinto monarca da primeira dinastia pós-diluviana de Uruk, tendo reinado por 126 anos e sendo sucedido por seu filho, Ur-Nungal, que reinou por 30 anos. Outro documento, a Inscrição de Tummal, aponta Gilgamesh como o segundo reconstrutor do templo de Tummal, dedicado à deusa Ninlil, na cidade santa de Nippur. Essas e outras, evidenciam arqueologicamente a existência de um rei chamado Gilgamesh que viveu e reinou em Uruk, em aproximadamente 2750 A.C.

Após seu reinado, e assumindo que tenha sido um personagem histórico real, Gilgamesh foi considerado o mais ilustre antecessor dos reis sumérios, tornando-se objeto de lendas e poemas e sendo venerado como deidade. Vários relatos sobre seus feitos são conhecidos de maneira fragmentária a partir do segundo milênio A.C., os mais antigos em sumério e os mais recentes em acádio. Numa destas lendas, Gilgamesh enfrenta e vence Aga, rei de Kish, consolidando a independência de Uruk. Essa lenda, assim reflete as lutas pela supremacia entre as cidades mesopotâmicas no início da história da suméria. Na história da luta contra Aga um dos guerreiros mais destacados de Gilgamesh é Enkidu, que é retratado como sendo um grande amigo do Rei-herói.

O texto mais importante sobre o personagem é a Epopeia de Gilgamesh, originalmente chamada de "Aquele que Viu a Profundeza (Sha naqba īmuru)" ou "Aquele que se Eleva Sobre Todos os Outros Reis (Shūtur eli sharrī)", trata-se de um épico mesopotâmico preservado em tabuletas de argila, escritas com caracteres cuneiformes, é provavelmente o mais antigo texto literário escrito pelo homem, trata-se de um longo poema cuja versão "padrão" foi compilada no último terço do segundo milênio A.C. em acádio, baseada em histórias mais antigas. A tragédia do poema é o conflito entre os desejos do deus e o destino do homem.



No início do poema, o Rei-herói é apresentado como o protetor de Uruk e construtor da magnífica muralha da cidade. Chamado de "Aquele que descobriu a origem" ou "Aquele que viu tudo", Gilgamesh era tido com um líder sensato, porém despótico. De personalidade extremamente arrogante e tirânica, ele recrutava violentamente os jovens para o serviço militar, matando muitos no processo, sua luxúria desmedida o fazia tomar para si qualquer mulher que lhe agradasse, solteira ou casada e violar todas as virgens do reino. O povo, descontente com o seu comportamento, apelou à deusa Aruru para que criasse um homem que o derrotasse em combate, devolvendo a paz à cidade. Em resposta Aruru fez, a partir do barro, um homem selvagem que era o oposto moral de Gilgamesh, Enkidu o “homem natural” foi criado entre os animais selvagens e era possuidor de imensa força e agilidade descomunal. 


Enkidu tornou-se muito temido fazendo com que Gilgamesh elaborasse um plano para atrai-lo ate o palácio no intuito de acabar com ele. Resolveu assim, enviar-lhe uma cortesã para seduzi-lo. Cedendo a desejos carnais e perdendo sua inocência, Enkidu foi rejeitado pelos animais e convencido pela cortesã a acompanhá-la ao palácio de Gilgamesh. Enquanto isso o jovem rei tinha sido perturbado por um sonho no qual combatia um homem invencível. Preocupado, Gilgamesh pediu conselhos à sua mãe, a deusa Ninsun, "a que possuía todo o conhecimento", que lhe disse que o sonho significava que Enkidu se tornaria o seu melhor amigo, o que de fato aconteceu. Quando Enkidu chegou ao palácio e após um violento combate corpo a corpo em que não houve vitorioso, Gilgamesh recebeu-o com amizade e Enkidu tornou-se seu companheiro inseparável em muitas aventuras e batalhas.


A amizade dos dois é o elo que liga todos os episódios da história. É Enkidu quem traz notícias sobre a misteriosa floresta de cedros e seu terrível sentinela. Esse é o tema do segundo episódio: os dois heróis partem em busca da montanha e dos cedros, na obscura floresta da alma, um lugar sombrio onde localizam-se poderes sobrenaturais e estranhas aventuras os aguardam, terão o desafio de enfrentar o monstro gigante Humbaba, guardião da floresta. A jornada na floresta e a batalha daí resultante podem ser lidas em diferentes planos da realidade. A floresta é real, algumas vezes identificada como sendo no norte da Síria ou sudoeste da Pérsia. As cidades sumérias localizavam-se geograficamente em planícies, por isso os sumérios em suas construções, necessitavam de muita madeira.



Após uma difícil batalha, Humbaba é morto por Gilgamesh e Enkidu, o rei de Uruk é glorificado quando retorna da floresta com a madeira dos cedros e a cabeça do monstro. Nesse momento, a deusa Ishtar (da fertilidade e da guerra), “padroeira” de Uruk e que estava apaixonada por Gilgamesh, confessou o seu amor e tentou seduzi-lo, mas este a rejeitou, provocando a sua ira. Como vingança ela convence Anu (o deus sumério supremo) a enviar o Touro Celestial, uma terrível besta que causa grande devastação sobre a Terra. Antes que o monstro destruísse a cidade por completo, Gilgamesh e Enkidu o enfrentam, Enkidu derrota e mata o touro. Vingativa, Ishtar posteriormente fez com que Enkidu fosse marcado pelos deuses para morrer, ele acaba ficando gravemente doente e morrendo ao fim de doze dias de agonia.


Gilgamesh lamenta-se amargamente, mas não pode ajudá-lo. Durante o luto pela morte de Enkidu, Gilgamesh desespera-se ao tomar consciência de sua condição de mortal. Lança-se então numa busca pela imortalidade. Nessa busca tortuosa e cheia de grandes desafios Gilgamesh encontra o sábio imortal Utnapishtim, sobrevivente de um grande dilúvio que acabou com toda a humanidade. Esse homem recebeu dos deuses o dom da imortalidade, o segredo que o Rei-herói buscava. Esta parte da história, com grande semelhança ao dilúvio narrado na Bíblia, é baseado no antigo épico acádio Atrahasis.


Utnapishtim o fez desistir de sua busca, dizendo-lhe que a morte era uma realidade incontornável. No entanto, desafiou-o a ficar acordado durante seis dias e sete noites, prometendo tornar-lhe imortal após esse teste. Gilgamesh, não consegue superar a prova e então percebe finalmente que não é e nem poderia ser diferente dos outros homens, ele volta então para a sua terra, mantendo a sua condição de mortal. Antes de sua partida, Utanapishtim contou-lhe o segredo de uma planta que vivia no fundo do oceano e que devolvia a juventude a quem se picasse nos seus espinhos. Gilgamesh desceu ao fundo do oceano e com grande dificuldade obteve a planta e guardou-a para experimentar os seus poderes num velho da sua cidade, mas, num momento de descuido, a planta é roubada por uma serpente durante sua jornada de regresso.


O último episódio, que existe apenas na versão suméria, narra o fim da vida do Rei-herói. O final da aventura é como um feitiço que se quebra, tudo volta ao normal com a descrição dos muros de Uruk, que foram construídos por ele e que seriam sua grande obra duradoura. Gilgamesh voltou a Uruk, onde ainda apavorado pelo medo da morte, evocou Enkidu, que lhe descreveu sua vida no mundo das trevas, essa descrição traz o esboço de toda uma cosmogonia. Essa parte da Epopeia não parece ter muita relação com o restante das aventuras, mas é lá que encontram-se traçadas as concepções sumérias de criação do cosmos. No original sumério esse ultimo poema chamava-se "Gilgamesh, Enkidu e o Mundo Inferno".





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