As harpias são frequentemente representadas como aves de rapina com rosto de mulher e seios. A iconografia ora as mostra ávidas de sangue e de sexo, a aguardar o momento de beber o sangue do herói que tombou na refrega, ora como sedutoras mulheres aladas, transportando carinhosamente o corpo de um jovem, não necessariamente para o Reino de Hades, mas para alguma espécie de paraíso, onde possam mais tarde usufruir do amor do raptado. Na chamada Tumba de Xanto na Lícia, as harpias, na forma de aves com cabeça de mulher, guardam o túmulo para arrebatar o morto. Eram frequentemente esculpidas sobre os sepulcros com a finalidade de raptar particularmente os mortos mais jovens. Não é fácil, por vezes, a não ser nas intenções, distingui-las das sirenas, enquanto estas não surgiram nas pinturas com os pés palmitiformes. Como os demais deuses alados e raptores, as três damas-aves têm por objetivo a união íntima com aqueles que arrebatavam.
Mais tarde, sobretudo à época clássica, as harpias transformaram-se em monstros horríveis, com rosto de mulher idosa, corpo semelhante ao do abutre, garras aduncas e seios pendentes. Pousavam nas iguarias dos banquetes e espalhavam um cheiro tão infecto que ninguém mais podia comer e dizia-se que habitavam as ilhas Estrófades, no mar Egeu.
Muito mais tarde, o poeta romano Virgílio, na Eneida (6.289) colocou-as no vestíbulo do Inferno, junto com outros monstros.
Mitos
Sobre Fineu, o adivinho, rei da Trácia, pesava terrível maldição por abusar de seus dons divinatórios - segundo alguns, por revelar aos homens as intenções dos deuses, segundo outros por indicar a Frixo como chegar à Cólquida e a seus filhos como retornar à Hélade. Tudo quanto se colocasse à frente do mesmo as harpias o carregavam, principalmente em se tratando de iguarias. O que não podiam levar sujavam com seus excrementos. Quando os argonautas passaram pela Trácia, o soberano pediu-lhes que o libertassem dos monstros. Zetes e Cálais, filhos do vento Bóreas, perseguiram-nas. O destino determinara que as harpias só pereceriam se agarradas pelos filhos de Bóreas, mas estes perderiam a vida se não as alcançassem. Perseguidas sem trégua, a primeira, Aelo, caiu em um riacho do Peloponeso. A segunda, Ocípite, conseguiu chegar às ilhas Equínades. Íris ou, segundo outros, Hermes postou-se diante dos perseguidores e proibiu-lhes matar as harpias porque eram "servidoras de Zeus". Em troca da vida, as harpias prometeram não mais atormentar Fineu, refugiando-se numa caverna da ilha de Creta. Em agradecimento por ter sido libertado das harpias, Fineu mostrou a Jasão e os argonautas o caminho para passar pelas Simplégades.
Enéias e seus companheiros, depois da queda de Tróia, na viagem em direção à Itália, pararam na ilha das Harpias; mataram animais dos rebanhos delas, as atacaram quando elas roubaram as carnes, e ouviram de uma das Harpias terríveis profecias a respeito do restante de sua viagem.
Segundo fontes tardias, as harpias uniram-se ao vento Zéfiro e geraram quatro cavalos: os dois de Aquiles, Xanto e Bálio, "mais rápidos que o vento" e os dois dos Dióscuros, Flógeo e Hárpago.
Simbolismo
Segundo Jean Chevalier e A. Gheerbrant, as harpias são parcelas diabólicas das energias cósmicas, as abastecedoras do Hades com mortes súbitas. Traduzem as paixões desregradas; as torturas obsedantes, carreadas pelos desejos e o remorso que se segue à satisfação das mesmas. Diferem das Erínias na medida em que estas representam a punição e aquelas figuram o agenciamento dos vícios e as provocações da maldade. O único vento que poderá afugentá-las é o sopro do espírito.
Na Idade Média, a imagem da harpia, também chamada a "virgem águia", era uma figura popular, particularmente na Frísia Oriental. É vista, por exemplo, nas armas de Rietburg, de Liechtenstein, e dos Cirksenas.