A Edda Poética: Parte V - Skírnismál
Mitologia

A Edda Poética: Parte V - Skírnismál


۞ ADM Sleipnir

Tradução e Notas de Márcio Alessandro Moreira.



O Skírnismál ("Os Dizeres de Skírnir") é um dos poemas da Edda Poética. O poema foi preservado no século 13 d. c., nos manuscritos Codex Regius e AM 748 I 4to mais pode ter sido originalmente composto em tempos pagãos ao redor do século 9 ou 10 d. c.. Acredita-se que o poema era encenado, talvez em um tipo de hiéros gamos ("casamento sagrado"). Esse poema é também conhecido como För Skírnismál ("A Viagem de Skírnir"). A Edda em Prosa narra uma versão levemente diferente dessa mesma história. O poema Skírnismál é rico em descrição do poder da magia nórdica.

Skírnismál

Freyr, o filho de Njörðr, um dia tinha se sentado no Hliðskjálf, e visto todos os mundos. 
Ele olhou em Jötunheimr, e ali viu uma linda donzela, quando ela estava indo do salão
de seu pai até o armazém. Desde então ele caiu em uma profunda depressão. Skírnir se
chamava o servente de Freyr. Njörðr o mandou para falar com Freyr. Então Skaði disse:

01-"Levante-se agora, Skírnir,
e vá pedir
ao nosso filho* que fale
e pergunte isso,
com quem o sábio está
muito bravo."

Skírnir disse:
02-"Palavras ruins
eu terei de seu filho,
se eu for falar com o rapaz
e perguntar,
com quem o sábio está
muito bravo."

03-"Diga-me, Freyr,
líder de batalha dos Deuses,
e eu desejo saber:
por que tu sentas sozinho,
no vasto salão,
meu senhor, todos os dias?"

Freyr disse:
04-"Como eu ti direi,
jovem homem,
a minha tristeza?
É porque Álfröðull*
brilha durante todos os dias
e não em meu coração."

Skírnir disse:
05-"Teu sentimento
eu não acho que seja tão grande,
que tu, senhor, não possa me dizer,
quando ambos éramos jovens
em dias de outrora,
podíamos confiar um no outro tão bem."

Freyr disse:
06-"Na corte de Gymir
eu vi andando
a donzela que eu desejo;
os seus braços brilhavam
e daí
todo o ar e mar."
07-"A donzela é mais desejada por mim
do que para qualquer
jovem homem de outrora;
Æsir e Álfar*,
nenhum homem deseja
que nós fiquemos juntos."

Skírnir disse:
08-"Me de o cavalo então,
que me carregue sobre a escuridão
em direção ao fogo chamejante*,
e essa espada,
que combate sozinho
contra a tribo dos Jötnar*."

Freyr disse:
09-"Eu te darei o cavalo,
que ti carregara através da escuridão
em direção ao fogo chamejante,
e essa espada
que combaterá sozinha
se quem a tiver for sábio."

Skírnir disse ao cavalo:
10-"É escuro lá fora,
eu digo que é hora de nós viajarmos
acima das montanhas nebulosas*,
acima da raça dos Þursar*;
ambos de nós voltaremos,
ou ambos de nós seremos pegos
pelo poderoso Jötunn."

Skírnir cavalgou para Jötunheimr até a corte de Gymir. Ali estavam cães ferozes e
amarrados na frente do portão do recinto, que circulava o salão de Gerðr. Ele cavalgou
onde um pastor estava sentado sobre um monte e falou para ele:

11-"Diga-me, pastor,
tu que senta sobre o monte da colina
e guarda todos os caminhos:
como eu chego a falar
com a jovem donzela
longe dos cães cinzentos de Gymir?"

Hirðir* disse:
12-"Tu está morto
ou está partindo?
-- -- --
privado de conversa
tu sempre será
com a boa filha de Gymir."

Skírnir disse:
13-"Escolher é melhor
do que se lamentar,
por aqueles que desejam partir;
um dia
minha vida foi gerada
e toda minha vida determinada."

Gerðr disse:
14-"Que barulho é esse
que eu ouço agora em
nosso salão?
A Terra treme,
e tudo sacode ao redor
da corte de Gymir."

Ambátt** disse:
15-"Um homem está lá fora,
desmontou das costas do cavalo,
e deixou o cavalo no pasto."

Gerðr disse:
16-"O convide para entrar
em nosso salão
e beber do melhor hidromel;
embora eu tema
que do lado de fora
seja o assassino do meu irmão*."

17-"Quem é esse dos Álfar
ou dos filhos dos Æsir
ou dos sábios Vanir?
Por que tu vieste sozinho
sobre o fogo selvagem
para ver nosso lar?"

Skírnir disse:
18-"Eu não sou dos Álfar
nem dos filhos dos Æsir
nem dos sábios Vanir;
embora eu tenha vindo sozinho
sobre o fogo selvagem
para ver o seu lar."

19-"Onze maças
eu tenho aqui, todas de ouro*,
eu as ti darei, Gerðr,
para ganhar o teu amor,
para que tu digas que Freyr
é o mais querido dos viventes."

Gerðr disse:
20-"Onze maças
eu nunca aceitarei
por amor de qualquer homem,
e nem eu e Freyr,
viveremos juntos
enquanto nossas vidas durarem."

Skírnir disse:
21-"Eu ti darei o anel,
que foi queimado
com o jovem filho de Óðinn*;
oito anéis de peso igual
pingam dele
a cada nove noites."

Gerðr disse:
22-"Eu não aceitarei,
embora ele tenha sido queimado
com o jovem filho de Óðinn;
eu não sinto falta de ouro
na corte de Gymir,
pois compartilho a riqueza de meu pai."

Skírnir disse:
23-"Tu vês essa espada, donzela,
afiada, ornamentada,
que eu tenho aqui em minha mão?
Eu cortarei
sua cabeça de seu pescoço,
a menos que tu concordes comigo."

Gerðr disse:
24-"Sofrer opressão
eu nunca quis,
pela paixão de um homem;
todavia eu creio
que se Gymir te encontrar,
não relutara em ti combater,
contra tu desejara lutar."

Skírnir disse:
25-"Tu vês essa espada, donzela,
afiada, ornamentada,
que eu tenho aqui em minha mão?
Perante essa lâmina
o velho Jötunn cairá,
seu pai será condenado à morte."

26-"Eu ti golpearei com o cajado*,
e eu ti dominarei,
donzela, para fazer minha vontade;
tu irás ali
onde os filhos dos homens
não te verão mais."
27-"Sobre a colina da águia
tu se sentará *,
olhando o mundo de baixo,
ansiosa do Hel;
a comida será mais repugnante para ti
do que para os homens
é a brilhante serpente*."

28-"Tu se tornará um espetáculo,
quando tu sair para fora;
Hrimnir* ti olhará,
todos os espíritos ti olharão;
tu serás mais conhecida
que o guardião dos Deuses,
tu bocejará através do portão*."

29-"Loucura e lamentação,
grilhões encantados e impaciência
cresceram em ti com lágrimas de tristeza;
tu ti sentarás,
mas eu ti ordenarei
grande sofrimento
e dupla aflição."

30-"Demônios ti atormentaram
ao longo dos dias
na corte dos Jötnar;
no salão dos Hrímþursar*
todos os dias tu
rastejará sem escolha,
rastejará sem esperança;
lágrimas por diversão
tu terá em troca
e repugnância com lágrimas de tristeza."

31-"Com o Þurs* de três cabeças
tu sempre habitarás
ou ficarás sem marido;
tua mente será possuída,
tu serás atormentada;
tu serás como o cardo*
que é tirado
no último tempo [das colheitas]."

32-"Eu andei nos bosques,
em florestas úmidas
para conseguir o Gambanteinn*;
o Gambanteinn eu consegui."

33-"Óðinn está furioso contigo,
Ásabragr* está furioso contigo,
Freyr ti odiará,
donzela maldosa,
tu terá ganhado
a mágica fúria dos Deuses."

34-"Me ouçam Jötnar,
me ouçam Hrímþursar,
filhos de Suttungr*,
e os próprios campeões dos Æsir,
como eu proíbo,
como eu impeço
a alegria dos homens para a donzela
e o prazer dos homens para a donzela."

35-"O Þurs chamado Hrímgrímnir,
ti terá
abaixo do Nágrindr*;
para ti os escravos,
nas raízes da árvore,
ti darão urina de cabra;
tu nunca mais
tomarás bebida melhor,
donzela, isto é por teu próprio desejo,
donzela, é por meu próprio desejo!"

36-"Eu esculpirei [a runa] Þurs* para ti
e três letras,
ergi* e loucura e impaciência;
do mesmo modo como eu tiro os riscos*,
como eu os dou origem,
se isso for necessário."

Gerðr disse:
37-"Seja bem vindo agora, rapaz,
e tome o copo fresco
cheio de antigo hidromel;
embora eu nunca tivesse pensado
que eu sempre
amaria o Vaníngi*."

Skírnir disse:
38-"Toda minha incumbência
eu desejo saber,
antes que eu cavalgue daqui par o lar,
quando tu aceitarás
se encontrar com o forte
filho de Njörðr?"

Gerðr disse:
39-"Barri* se chama,
onde ambos nós sabemos,
o bosque de silenciosos caminhos;
e depois de nove noites,
ali com o filho de Njörðr,
Gerðr aceitará o amor."

Então Skírnir cavalgou para o lar. Freyr estava lá fora e falou com ele e perguntou por
novidades:

40-"Diga-me, Skírnir,
antes que tu pules da sela do cavalo,
e que tu de um passo a frente:
o que tu conseguiste
em Jötunheimr
por seu e meu prazer?"

Skírnir disse:
41-"Barri se chama,
onde ambos nós sabemos,
o bosque de silenciosos caminhos;
e depois de nove noites,
ali com o filho de Njörðr,
Gerðr aceitará o amor."

Freyr disse:
42-"Uma noite é longa,
duas é mais longa ainda,
como resistirei três?
Frequentemente um mês
me parecia mais breve
que a metade de uma noite de núpcias."

Notas do Skírnismál:







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