A Edda Poética: Parte IX - Þrymskviða
Mitologia

A Edda Poética: Parte IX - Þrymskviða


۞ ADM Sleipnir

Tradução e notas de Márcio Alessandro Moreira


O Þrymskviða ("A Canção de Þrymr") é um dos poemas mais famosos da Edda Poética e nos informa como Þórr recuperou o seu martelo roubado por Þrymr. O mito nórdico teve popularidade duradoura pela Escandinávia e continuou sendo contado e cantado em diversas formas até o século 19 d.c. .

Þrymskviða

01-Dessa vez Vingþórr* ficou furioso
quando ele acordou
e seu martelo
tinha desaparecido,
sua barba tremia*,
seu cabelo sacudia,
o filho de Jörð*
resolveu procura-lo.

02-E essas foram às primeiras
palavras que ele disse:
"Ouça-me, Loki,
o que eu falo agora
quando ninguém sabe
em parte alguma na terra
nem acima no céu:
que o martelo do Áss* foi roubado!"

03-Eles foram para o belo
lar de Freyja,
e essas foram às primeiras
palavras que ele disse:
"Freyja, tu me emprestarás
o teu casaco de penas*,
para que o meu martelo
eu possa encontrar?"

Freyja disse:
04-"Eu ti darei mesmo
que fosse feito de ouro,
e ti darei mesmo
que fosse feito de prata."
05-Então Loki voou,
- o casaco de penas zumbiu, -
até que ele saiu
da corte dos Æsir
e chegou à
terra dos Jötnar.

06-Þrymr estava sentado sobre um monte,
o senhor dos Þursar*,
trançando coleiras douradas
para os seus cães cinzentos
e aparando as jubas
e dos seus cavalos.

Þrymr disse:
07-"O que há com os Æsir?
O que há com os Álfar*?
Por que tu vieste sozinho
em Jötunheimr?"
Loki disse:
"Os Æsir vão mal,
os Álfar vão mal;
Tu tem escondido
o martelo de Hlórriði*?"

Þrymr disse:
08-"Eu tenho escondido
o martelo de Hlórriði
oito milhas
abaixo da terra;
nenhum homem o conseguirá
de volta,
a menos que me tragam
Freyja como esposa."

09-Então Loki voou,
- o casaco de penas zumbiu, -
até que ele saiu
da terra dos Jötnar
e chegou à
corte dos Æsir.
Ele se encontrou com Þórr
no meio da terra,
e essas foram às primeiras
palavras que ele disse:

10-"Tu tens mensagens
tanto quanto dificuldades?
Diga-me, enquanto tu ainda estás no ar,
às prolongadas notícias,
muitas vezes sentado
às histórias podem falhar
e deitado
falar mentiras*."

Loki disse:
11-"Eu tenho dificuldades
e mensagens;
Þrymr tem o teu martelo,
o senhor dos Þursar;
nenhum homem o conseguirá
de volta,
a menos que lhe tragam
Freyja como esposa."

12-Eles foram para o belo
lar de Freyja para procura-la,
e essas foram as primeiras
palavras que ele disse:
"Se vista, Freyja,
com o véu nupcial;
nós dois viajaremos
para Jötunheimr."

13-Dessa vez Freyja ficou furiosa
e bufou de raiva,
todos os salões dos Æsir
debaixo dela tremeram,
caiu o grande
colar Brísingamen*:
"Eu serei conhecida
como uma prostituta,
se eu for contigo
para Jötunheimr."

14-Logo foram todos os Æsir
para a Þing*
e todas as Ásynjur*
para a discussão,
e sobre isso debateram
os Tívar regentes*
de como eles conseguiriam
o martelo de Hlórriði de volta.

15-Então Heimdallr disse isso,
o mais branco dos Æsir,
ele que vê adiante tão bem
como outro Vanir*:
"Então nós vestiremos Þórr
com o véu nupcial,
ele usará o grande
colar Brísingamen."

16-"Deixe sobre ele
as chaves* oscilarem
e deixe o vestido
cair em seus joelhos,
sobre o peito
pedras preciosas
e cubram
a sua cabeça."

17-Então Þórr disso isso,
o poderoso Áss:
"Os Æsir me
chamaram de ergi*
se eu me permitir ser vestido
em véu nupcial."

18-Então Loki disso isso,
o filho de Laufey:
"Silêncio, Þórr,
não diga mais nada.
Logo os Jötnar
habitaram em Ásgarðr,
a menos que tu consigas recuperar
o teu martelo."

19-Então eles vestiram Þórr
com véu nupcial
e com o grande
colar Brísingamen,
sobre ele deixaram
as chaves oscilarem
e deixaram o vestido
cair em seus joelhos,
sobre o peito
pedras preciosas
e cobriram
a sua cabeça.

20-Então Loki,
o filho de Laufey, disse:
"Eu irei contigo
e eu serei a criada,
nós dois nos dirigiremos
para Jötunheimr."

21-Logo os bodes*
foram dirigidos para a casa,
eles aceleraram os arreios,
e correram bem;
as montanhas se partiam,
as chamas chamuscavam a Terra
quando o filho de Óðinn* viajava
para Jötunheimr.

22-Então Þrymr disse isso,
o senhor dos Þursar:
"Levantem-se Jötnar,
e espalhem palha nos bancos,
agora eles estão me trazendo
Freyja, como esposa,
a filha de Njörðr
do Nóatún."
23-"Aqui na corte pastam
vacas de chifres dourados*,
bois totalmente negros
para a alegria dos Jötnar;
eu possuo muitos tesouros,
eu possuo muitas joias,
para mim parece que só
falta Freyja."

24-Eles foram para lá
antes da chegada do entardecer
e para os Jötnar
a cerveja foi trazida;
ele comeu um boi inteiro,
oito salmões,
todas as guloseimas,
que as mulheres devem ter*,
o marido de Sif* bebeu
três tonéis de hidromel.

25-Então Þrymr disse isso,
o senhor dos Þursar:
"Onde já se viu uma noiva
comer tão vorazmente?
Eu nunca vi uma noiva
comer tão amplamente,
nem uma donzela
beber muito hidromel."

26-Perto dele se sentou
a instruída criada*,
que encontrou palavras
para falar para o Jötunn:
"Freyja não comeu nada
por oito noites,
de tanto que ela estava ansiosa
por Jötunheimr."

27-Ele dobrou o véu,
desejando beijá-la,
mas pulou para atrás da outra
extremidade do salão.
"Por que são terríveis
os olhos de Freyja?
Parece para mim que dos olhos
dela o fogo arde*."

28-Perto dele se sentou
a instruída criada,
que encontrou palavras
para falar para o Jötunn:
"Freyja não tem dormido
por oito noites,
de tanto que ela estava ansiosa
por Jötunheimr."

29-Veio à miserável
irmã do Jötunn,
por presentes nupcial*
ousando pedir:
"Me de da tua mão
esses anéis vermelhos,
se tu queres ter
o meu amor,
meu amor
e toda a minha amizade."

30-Então Þrymr disse isso,
o senhor dos Þursar:
"Traga o martelo
para santificar a noiva,
coloque o Mjöllnir
sobre o joelho da donzela*,
consagre nós dois juntos
pela mão de Vár*!"

31-O coração de Hlórriði
riu em seu peito,
quando o de mente forte*
viu o seu martelo;
primeiro ele matou Þrymr,
o senhor dos Þursar,
e a família do Jötunn
ele esmagou todos.

32-Ele matou a velha
irmã dos Jötnar,
que por presente nupcial
havia pedido;
ela recebeu um golpe de morte
em vez de moedas*,
um golpe do martelo
em vez de um montão de anéis.
E assim o filho de Óðinn
conseguiu seu martelo de volta.


Notas do Þrymskviða:
  • 01/1* Vingþórr é outro nome de Þórr.
  • 01/5* Uma saga conta que quando a barba de Þórr sacudia produzia tempestades.
  • 01/7* Þórr é o filho de Jörð.
  • 02/8* Áss significa "Deus" e se refere ao próprio Þórr.
  • 03/6* Casaco de penas é a forma de falcão de Freyja.
  • 06/2* Þursar são os Gigantes.
  • 07/2* Álfar são os Elfos.
  • 07/8* Hlórriði é outro nome de Þórr.
  • 10/8* Isso parece indicar que Loki poderia inventar algo para Þórr, por isso o Deus pede a Loki para ser rápido ao contar as novidades.
  • 13/6* O colar caiu ao chão.
  • 14/2* Þing é a assembleia dos povos nórdicos.
  • 14/3* Ásynjur são as Deusas.
  • 14/6* Tívar regentes são os Deuses.
  • 15/4* Heimdallr aqui é referido como outro Vanir.
  • 16/2* As chaves são o símbolo das mulheres casadas e noivas.
  • 17/4* Ergi é uma forma de chamar um homem com modos femininos.
  • 21/1* Os bodes de Þórr que puxam seu carro foi trazido até os Deuses para eles seguirem viagem para o mundo dos Gigantes.
  • 21/7* Þórr.
  • 23/2* Na Gautreks Saga é dito que o fazendeiro Rennir tinha os chifres de seus bois favoritos enfeitados com ouro e prata.
  • 24/8* Possivelmente se trata de algum alimento dedicado à noiva ou as mulheres do noivado.
  • 24/9* Þórr.
  • 26/2* Loki disfarçado de criada.
  • 27/8* Aqui indica o olhar fulminante de Þórr, que também aparece nas miniaturas dos martelos encontrados pela Escandinávia e usado pelos Vikings. Esses pequenos martelos tinham o olhar fulminante, o bico de águia, e a barba que são os símbolos de Þórr.
  • 29/3* O dote.
  • 30/6* Þórr e seu martelo são agentes da fertilidade. É notavelmente semelhante aos poemas rúnicos referentes à runa Þurisaz.
  • 30/8* Vár é a nona das Deusas, segundo Snorri. Ela protege os juramentos e os votos feitos entre homens e mulheres. Ela se vinga de todos os que quebram esses juramentos.
  • 31/3* Þórr.
  • 32/6* Aqui indica que a irmã de Þrymr além dos anéis da mão de Þórr ainda queria moedas como dote.




- A Edda Poética: Parte Xiv - Baldrs Draumar
۞ ADM Sleipnir Tradução e notas de Márcio Alessandro Moreira. Baldrs Draumar ("Os Sonhos de Baldr") ou Vegtamskviða ("A Canção de Vegtamr") é um poema Eddico, contido no manuscrito AM 748 I 4to. Esse mito tem estreita ligação com...

- A Edda Poética: Parte Xi - Alvíssmál
۞ ADM Sleipnir Tradução e notas por Marcio Alessandro Moreira. O Alvíssmál ("As Palavras de Alvíss") é um dos poemas da Edda Poética. Acredita-se que tenha sido redigido no século 11 d. c.. Esse poema conta como Þórr conseguiu livrar...

- A Edda Poética: Parte Vii - Hymiskviða
۞ ADM Sleipnir Tradução e notas de Márcio Alessandro Moreira. O Hymiskviða ("A Canção de Hymir") é um dos poemas da Edda Poética, e conta como Þórr fez para conseguir o caldeirão do Jötunn Hymir para o Sumbel ("Banquete") dos Deuses. Esse...

- A Edda Poética: Parte Vi - Hárbarðsljóð
۞ ADM Sleipnir Tradução e notas de Márcio Alessandro Moreira. O Hárbarðsljóð ("A Canção de Hárbarðr") é um dos mais fascinantes poemas Eddicos. Ele nos mostra a complexidade existente entre os Deuses Þórr e Óðinn. O Hárbarðsljóð...

- A Edda Poética: Parte V - Skírnismál
۞ ADM Sleipnir Tradução e Notas de Márcio Alessandro Moreira. O Skírnismál ("Os Dizeres de Skírnir") é um dos poemas da Edda Poética. O poema foi preservado no século 13 d. c., nos manuscritos Codex Regius e AM 748 I 4to mais pode ter sido...



Mitologia








.