Mitologia
A Edda Poética: Parte VII - Hymiskviða
۞ ADM Sleipnir
Tradução e notas de Márcio Alessandro Moreira.
O Hymiskviða ("A Canção de Hymir") é um dos poemas da Edda Poética, e conta como Þórr fez para conseguir o caldeirão do Jötunn Hymir para o Sumbel ("Banquete") dos Deuses. Esse conto, além de constar no Codex Regius, também aparece no manuscrito AM 748 I 4to. Na Edda em Prosa, Snorri apresenta uma versão bem diferente. Sem duvida esse conto é um dos mais famosos de Þórr, pois aparece em várias estelas rúnicas.
Hymiskviða
01-Há muito tempo os Valtívar*
apanhavam peixes*,
e se banqueteavam,
antes de se sentaram para a refeição,
eles sacudiram ramos*
e no sangue do sacrifício* entenderam;
eles encontraram com Ægir
ampla escolha de caldeirões*.
02-O habitante da montanha* se sentava
bastante feliz como uma criança,
muito parecido com o filho de
Miskorblindi*;
o filho de Yggr*
olhou desafiadoramente em seus olhos:
"Tu deves aos Æsir
frequentemente preparar um sumbel*."
03-O Jötunn conseguiu trabalho
do herói zombador,
ele pensou em se vingar
o mais depressa contra os Deuses,
ele pediu ao marido de Sif*
que trouxesse um caldeirão,-
"Em qual eu fermentarei cerveja
para todos vocês."
04-Nem isto foi capaz
os gloriosos Tívar
e Ginnregin*
de conseguir em parte alguma,
até que o fiel
Týr para Hlórriði*,
um grande conselho,
disse em particular.
05-"Habita a leste
de Élivágar*,
o sábio Hymir,
no fim do céu;
meu feroz pai*
possui um caldeirão,
um caldeirão espaçoso,
de uma légua de profundidade."
Þórr disse:
06-"Tu sabes se receberemos
esse caldeirão?"
Týr disse:
"Se, amigo, nós inteligentemente
usarmos truques."
07-Nesse dia eles saíram
num longo caminho
de Ásgarðr,
até que chegaram no [lar de] Egill*;
ele guardou os bodes
de chifres esplêndidos;
eles foram para o salão
que Hymir possuía.
08-O jovem* conheceu
a avó e a detestou muito,
ela tinha
novecentas cabeças,
mas outra [mulher] chegou
toda em ouro*,
com alvas sobrancelhas,
trazendo cerveja para o seu filho:
09-"Parente de Jötnar*,
eu quero colocar vocês dois,
homens valentes,
atrás dos caldeirões;
meu amante
é muito grosseiro
com os seus convidados,
tem mau temperamento."
10-[Mas] o furioso
chegou tarde,
Hymir, o de coração frio,
ao lar [de volta] da caça,
[ele] entrou no salão,
gotas de gelo ressoavam,
quando o homem* chegou,
com a floresta da face* congelada.
Frilla* disse:
11-"Ti saúdo, Hymir,
com bons pensamentos,
agora o filho chegou
ao teu salão,
quem nós esperávamos
de suas longas jornadas;
ele está acompanhado
do inimigo de Hróðr*,
o amigo dos homens;
que é chamado Véurr*."
12-"Vejas tu, onde [eles] estão sentados
sob o frontão do salão,
para se protegerem,
ficando atrás do pilar."
O pilar explodiu em pedaços
no vislumbre do Jötunn,
e a viga se quebrou
em dois.
13-Oito se quebraram,
só apenas um
caldeirão de ferro
resistiu intacto;
eles caminharam adiante,
o antigo Jötunn
olhou em direção
a seu adversário*.
14-Sua mente lhe disse
pra ficar atento quando ele viu
a tristeza das Gýgjur*
andando no recinto,
para lá três bois
foram levados,
imediatamente o Jötunn mandou
serem assados*.
15-Todos eles foram deixados
sem cabeça
e colocados depois disso
no pote de assar;
o marido de Sif comeu,
antes de ir dormir*,
sozinho,
os dois bois de Hymir.
16-Pensou o grisalho
amigo de Hrungnir*
que a comida de Hlórriði*
era uma porção muito grande:
"No próximo entardecer
teremos que ir
caçar alimento para
nós três vivermos*."
17-Véurr disse que queria
remar no oceano,
se o teimoso Jötunn
lhe desse a isca.
Hymir disse:
"Tu deves ir até o rebanho,
se tu ousas
destruidor dos Danes das montanhas*,
e procure uma isca."
18-"É isso que espero,
que para ti
seja fácil conseguir
uma isca de bois."
O rapaz ansiosamente
foi para a floresta,
onde estava um boi
completamente negro.
19-O matador dos Þursar*
arrancou do boi,
o domicílio
dos dois altos chifres*.
Hymir disse:
"Teu trabalho parece
muito pior,
mestre do barco,
mais do que quando tu estavas sentado*."
20-O senhor dos bodes
mandou o parente dos macacos*
guiar o cavalo das ondas*
o mais longe possível,
mas o Jötunn disse
que tinha pouca vontade
de remar
para mais longe.
21-O famoso Hymir,
mal-humorado,
logo puxou duas baleias
num único anzol,
e de volta na popa,
o filho de Óðinn, Véurr,
habilidosamente fez
sua linha de pesca.
22-O guardião dos homens,
o único matador da serpente*,
firmou a cabeça
do boi no anzol;
aquele que os Deuses odeiam
e se posiciona abaixo circulando
todas as terras,
mordeu o anzol*.
23-O destemido Þórr
corajosamente puxou
a venenosa serpente
até o lado do barco;
e com o seu martelo
ele golpeou violentamente
em cima da cabeça
do escondido irmão do lobo*.
24-Os monstros rugiram
e as rochas ressoaram,
toda a antiga Terra
foi sacudida;
-- -- --
-- -- --*
até o peixe* afundar
de volta no mar*.
25-O Jötunn não estava feliz,
quando ele remou de volta,
Hymir não falou nada
enquanto estava no remo,
ele puxou o remo
para ver que lado o vento soprava.
Hymir disse:
26-Tu irá fazer metade
do trabalho comigo,
carregando as baleias
para a fazenda,
ou amarrando
nosso bode a vela*."
27-Hlórriði andou,
agarrou na proa,
levantou o cavalo das ondas*
com os remos, a colher
e o balde*,
e ele carregou sozinho
ambos os javalis do mar*,
até a fazenda do Jötunn
e foi através do vale
dos bosques arborizados*.
28-Mas o Jötunn
estava obstinado
e discutiu com Þórr
sobre força;
dizendo que embora um homem
possa remar vigorosamente,
ele não é poderoso
a menos que quebrasse o cálice*.
29-Mas Hlórriði,
logo que teve isso nas mãos,
ele esmagou
as colunas de pedra com o cálice;
de onde se sentava
ele atirou isto através dos pilares;
embora depois o cálice
tivesse sido trazido para Hymir inteiro.
30-Até a amável
senhora* lhe ensinar
um grande conselho,
que ela conhecia:
"Golpeia na cabeça de Hymir,
enquanto o Jötunn
está pesado com a comida,
onde é mais duro que qualquer cálice."
31-O robusto senhor dos bodes
se levantou em seus pés
e usou todo
o seu Ásmegin*;
o tronco do elmo do homem*
ficou inteiro,
mas o oval barril do vinho*
foi quebrado em pedaços.
32-"Eu sei que uma coisa muito estimada
minha se foi,
quando eu vejo o cálice
caído à ruína do combate*,"
o homem* disse essas palavras:
"eu nunca poderei
dizer novamente:
tu estás fermentada, cerveja."
33-"Mas isso será testado,
se tu podes carregar,
do nosso templo,
o barco da cerveja*."
Týr tentou mover o caldeirão
por duas vezes;
mais nas duas vezes
o caldeirão ficou imóvel*.
34-O pai de Móði*
agarrou o aro e seu pé
atravessou diretamente
através do chão* do salão;
o marido de Sif
levantou o caldeirão acima
de sua cabeça e as manivelas
batiam em seus calcanhares.
35-Eles andaram por um tempo,
até o filho de Óðinn
olhar uma vez
para trás dele;
ele viu uma tropa
de guerreiros de múltiplas cabeças*
emergindo com Hymir
das rochas no leste.
36-Ele levantou o caldeirão
de seus ombros,
ele atirou o assassino
Mjöllnir adiante,
e ele matou todas
as baleias da lava*.
37-Eles não andaram muito tempo
quando um dos bodes
de Hlórriði
caiu semimorto na frente deles,
a besta condutora* do vagão
estava manco do osso [da perna],
e por causa
do astuto Loki.
38-Mas tu já tem ouvido,-
e cada um que conhece
os contos dos Deuses
entende claramentecomo
ele conseguiu sua recompensa*
do habitante da lava*
que lhe pagou com
seus filhos*.
39-O poderoso chegou
à Þing* dos Deuses
e tinha o caldeirão
que Hymir uma vez possuiu;
e os Deuses
vão alegremente beber
cerveja com Ægir
[todo inverno*].
Notas do Hymiskviða:
- 01/1* Valtívar significa "Deuses da Morte".
- 01/2* Essa passagem também pode ser traduzida como: "... estavam caçando" ou "... estavam jogando".
- 01/5* Possivelmente são varetas com runas talhadas para prever o futuro.
- 01/6* Um antigo modo de adivinhação usado para prever o futuro.
- 01/8* Também pode ser traduzido como: "... a falta de caldeirões".
- 02/1* Ægir.
- 02/4* Miskorblindi parece ser o nome do pai de Ægir, embora as outras fontes contem que o pai dele é Fornjötr.
- 02/5* Þórr.
- 02/8* Sumbel é uma celebração onde pessoas bebem em comunhão em ato ritual.
- 03/5* Þórr.
- 04/3* Tívar e os Ginnregin são os Deuses.
- 04/6* Þórr.
- 05/2* Élivágar é os rios venenosos que corre da fonte Hvergelmir no Ginnungagap, onde Ymir (o primeiro Jötunn) foi criado.
- 05/5* Týr afirma que seu pai é o Gigante Hymir, enquanto Snorri diz que ele é filho de Óðinn.
- 07/4* Esse Egill parece ser o mesmo personagem que o Egill, que é irmão de Völund, ambos moram na floresta.
- 08/1* Týr é neto dessa Giganta.
- 08/6* Essa mulher é a mãe de Týr e estava vestida com ouro.
- 09/1* Jötnar são os Gigantes.
- 10/7* Esse "homem" é o Gigante Hymir.
- 10/8* A barba. * Frilla significa "Bela Senhora", mas talvez fosse o nome real da mãe de Týr.
- 11/8* Þórr.
- 11/10* Þórr.
- 13/8* Þórr.
- 14/3* Þórr é a tristeza das Gýgjur ("Gigantas"), porque é o matador dos Gigantes.
- 14/8* Embora o Gigante esteja furioso isso não o impediu de ser hospitaleiro com seus convidados.
- 15/6* Þórr comeu dois bois inteiros antes de dormir.
- 16/2* Hymir é o amigo de Hrungnir, embora pareça apenas se referir para indicar que ambos são Gigantes.
- 16/3* Þórr.
- 16/8* Ter o que comer para sobreviver.
- 17/8* Danes (=Dinamarqueses) das montanhas são os Gigantes.
- 19/1* Þórr é o matador dos Þursar.
- 19/4* Kenningr para "cabeça".
- 19/9* Hymir parece se queixar pela perda dos bois.
- 20/2* O senhor dos bodes é Þórr e o parente dos macacos é Hymir.
- 20/3* Kenningr para "barco".
- 22/2* Þórr.
- 22/8* Jörmungandr.
- 23/8* Jörmungandr é irmão do lobo Fenrir. Outra tradução é possível: "e com o seu martelo ele golpeou violentamente a escondida cabeça do lobo irmão de batalha".
- 24/6* Segundo Carolyne Larrington o manuscrito parece indicar uma lacuna. Hymir provavelmente cortou a linha nesse momento. Snorri confirma isso no Gylfaginning cap. 48.
- 24/7* O "peixe" é Jörmungandr.
- 24/8* Snorri diz, no Gylfaginning cap. 48, que Þórr acertou a cabeça de Jörmungandr abaixo das ondas e que o Deus teria decapitado o monstro, mais ele depois afirma que a serpente sobreviveu. No prólogo da Edda em Prosa é dito que Þórr matou "o maior dos dragões" em suas andanças pelo mundo. O escaldo Úlfr Uggason compôs um poema sobre a vitória de Þórr contra Jörmungandr (além de outros mitos) e ele também relata que o Deus teria decapitado a serpente. É interessante notar que Úlfr havia visto imagens pintadas desta cena numa casa da Islândia no final do século 10 e provavelmente esse é o final do relato mítico, pois mostra que os nórdicos pagãos acreditavam que Þórr havia matado a serpente e sobrevivido; e que a versão apresentada nas duas Eddas, onde o Deus e o monstro morrem, pode ter sido adulterado pelos cristãos. Saxo Grammaticus na Gesta Danorum Livro III relata que nada pode resistir (e continuar vivo) ao golpe do martelo de Þórr.
- 26/6* Kenningr para "barco".
- 27/3* Kenningr para "barco".
- 27/5* Equipamentos do barco.
- 27/7* Kenningar para "baleias".
- 27/10* Þórr fez todo o trabalho de Hymir, primeiro o Deus traz o barco até terra firme com tudo que tinha dentro dele e depois ele levou as baleias para a fazenda do Jötunn. Provavelmente indicando que Þórr não faz o serviço pela metade.
- 28/8* Cálice que Hymir possuía e parece ser mágico.
- 30/2* A esposa de Hymir.
- 31/4* Ásmegin significa "Força Divina".
- 31/5* Kenningr para a "cabeça de Hymir".
- 31/7* Kenningr para "Cálice" ou "Copo".
- 32/4* Também pode ser traduzido assim: "... em ruína no meu joelho."
- 32/5* Hymir.
- 33/4* Kenningr para caldeirão.
- 33/8* Týr não foi capaz de mover o caldeirão embora já tivesse tentado levanta-lo duas vezes.
- 34/1* Þórr é pai de Móði.
- 34/4* Por causa do peso do caldeirão. Segundo o Gylfaginning cap. 48, quando Þórr puxou Jörmungandr do mar, seus pés atravessaram as madeiras do barco e tocaram o fundo do oceano.
- 35/6* Gigantes com múltiplas cabeças como a avó de Týr.
- 36/6* Kenningr para "Gigante".
- 37/5* Um dos bodes de Þórr.
- 38/5* Þórr.
- 38/6* Egill
- 38/8* Þjálfr e Röskva.
- 39/2* O poderoso é Þórr que chegou para a Assembleia.
- 39/8* Esta linha é de difícil interpretação, mas parece sugerir o inverno.
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