A Edda Poética: Parte X - Völundarkviða
Mitologia

A Edda Poética: Parte X - Völundarkviða


۞ ADM Sleipnir

Tradução e notas de Márcio Alessandro Moreira.



O Völundarkviða ("A Canção de Völundr") é um dos poemas da Edda Poética, que narra como Völundr, um ferreiro, se vingou sobre Níðuðr, que havia lhe capturado. Após ser escravizado e ter os tendões cortados para não fugir, ele passou a fabricar jóias para o rei. Völundr então decide se vingar do rei, matando os seus dois filhos, e seduzindo a sua filha, Böðvildr. Com as partes dos corpos dos rapazes Völundr fabricou jóias e deu para o casal real, depois embriagou Böðvildr com quem deixou esperando um filho e voou com asas para o céu obtendo a liberdade. Esse poema foi preservado no Codex Regius e no AM 748 I 4to (apenas o prólogo, porque está muito fragmentado). A lenda de Völundr aparece na Þiðrekssaga af Bern e no poema The Lament of Deor, em Inglês Arcaico.

Völundarkviða

Havia um rei em Svíþjóð* chamado Níðuðr. Ele tinha dois filhos e uma filha. Ela se chamava Böðvildr. Havia três irmãos, filhos do rei dos Finnar**. Um se chamava Slagfiðr, o segundo Egill, o terceiro Völundr. Eles andavam sobre esquis e caçavam bestas selvagens. Eles vieram para Úlfdalir***, e ali fizeram para si uma casa. Ali havia um lago chamado Úlfsjár****. Uma manhã eles encontraram sobre a extremidade do lago três fêmeas sentadas e tecendo linho. Perto delas estavam suas plumagens de cisnes. Elas eram Valkyrjur*****. Duas delas, Hlaðguðr-Svanhvít e Hervör-Alvitr, eram filhas do rei Hlöðvér; a terceira era Ölrún, a filha de Kjár de Valland******. Eles as levaram ao lar com eles para sua moradia. Egill obteve Ölrún, Slagfiðr Svanhvít, e Völundr Alvitr. Eles viveram ali sete anos. Então elas voaram embora para procurar batalhas, e não retornaram. Então Egill saiu esquiando a procura de Ölrún, e Slagfiðr a procura de Svanhvít, mas Völundr permaneceu em Úlfdalir. Ele era um homem habilidoso, assim os homens o conheciam de velhas sagas. O rei Níðuðr ordenou que ele fosse agarrado, assim como é relatado aqui:

01-Donzelas voaram do sul
através de Myrkviðr*,
Alvitr a jovem,
tentou a sorte;
sobre a praia do mar elas
se sentaram para descansar,
as donzelas do sul
e elas teciam linho.

02-Uma delas,
a bela mulher,
de peitos alvos,
Egill abraçou;
Svanhvít era a segunda,
ela usava uma plumagem de cisne,
mas a terceira,
sua irmã,
de pescoço branco,
Völundr a manteve.

03-Desde então se sentaram
por sete invernos,
mas no oitavo
todos terminaram,
e no nono
precisaram se dividir;
as donzelas se inclinaram
para a floresta sombria,
a jovem Alvitr,
se entregou ao örlög*.

04-Da caçada veio
o arqueiro de olhos finos,
[Völundr, foi
em distantes caminhos],
Slagfiðr e Egill,
encontraram o salão vazio,
foram para fora e para dentro
e ao redor olharam;
Egill deslizou em esqui para leste
atrás de Ölrún
e Slagfiðr foi ao sul
atrás de Svanhvít.

05-Mas apenas Völundr
ficou em Úlfdalir,
ele forjou com ouro vermelho
resistente jóias,
ele amarrou bem todos
os anéis com cordas de tília;
assim ele esperou
sua brilhante
esposa, se para ele
ela retornasse.

06-Nisso ouviu Níðuðr,
o senhor de Níára,
que apenas Völundr
permanecia em Úlfdalir;
à noite foram homens,
com cotas de malha,
seus escudos brilhavam
com a lua crescente.

07-Saindo de suas selas
no frontão do salão,
eles foram ali dentro,
na extremidade do salão;
eles virão sobre as cordas de tília,
anéis pendurados,
ao todo setecentos
que o herói possuía.

08-E eles os pegaram,
e eles os deixaram,
exceto apenas um,
que eles levaram.
Da caçada veio
o arqueiro de olhos finos,
Völundr, passando
sobre um longo caminho.

09-Ele fora ao fogo
para assar a carne de ursa,
logo os arbustos queimaram
o abeto completamente seco,
com o vento árido na madeira,
perante Völundr.

10-Sentado sobre a pele de ursa,
ele contou os anéis,
do senhor dos Álfar*,
apenas um faltava;
ele pensou que a
filha de Hlöðvér o tinha levado,
a jovem Alvitr,
e que ela tivesse retornado* ao lar.

11-Ele estava sentado por tanto tempo,
que ele adormeceu,
e ele acordou
triste;
vendo nas mãos
pesadas necessidades*
e sobre os pés
correntes apertadas.

Völundr disse:
12-"Quem são os guerreiros,
que me colocaram a
corda com anéis
e me acorrentaram?"
13-Depois falou Níðuðr,
o senhor dos Níar:
"Onde tu conseguiste Völundr,
príncipe dos Álfar*,
nosso dinheiro*
em Úlfdalir?"

Völundr disse:
14-"O ouro não estava ali
no caminho de Grani*,
eu acho que nossa terra estava longe
das montanhas do Rínar*;
eu acho que nós mais
tesouros possuímos,
quando a família está segura
em nosso lar."

15-"Hlaðguðr e Hervör
foram nascidas de Hlöðvér
sabe-se que Ölrún
era filha de Kíar."

16-[Lá fora estava à sábia
esposa de Níðuðr*,]
ela veio andando
da extremidade do salão,
ficando sobre o pavimento,
e com voz moderada:
"Agora não parece dócil,
ele que veio da floresta*."

O rei Níðuðr deu para sua filha Böðvildr o anel de ouro que ele havia pegado das
cordas de tília de Völundr, mas ele próprio usava a espada, que pertencia a Völundr. A
rainha disse:
17-"Seus olhos são penetrantes
como os das serpentes brilhantes,
ele mostra os dentes,
quando a espada é exibida a ele
e ele reconhece em Böðvildr
o anel dele;
cortem dele a
sua força*
e depois o coloquem
em Sævarstöðr*."

Assim foi feito, fizeram uma incisão em seus tendões dos pés, e ele foi colocado numa
ilha, que estava próximo a terra, que se chamava Sævarstaðr. Ali ele forjou para o rei
todo tipo de jóias. Nenhum homem ousava ir até ele exceto apenas o rei.

18-"A espada que brilha
no cinto de Níðuðr,
que eu afiei
que eu habilidosamente forjei
e eu temperei
que me parece mais habilidosa;
esta espada brilhante foi tomada de mim
para sempre,
eu nunca verei isso
ser levada de volta para a forja de Völundr."

19-"Agora Böðvildr usa
o anel vermelho
da minha noiva,
- para isso eu não tenho indenização. -"

20-Ele se sentou, mas não dormia,
e ele batia o martelo;
ele fazia artifícios habilidosamente muito
rápidos para Níðuðr.
Dois jovens foram
olhar a sua porta,
eram filhos de Níðuðr,
em Sævarstaðr.

21-Eles vieram pelo baú,
perguntando pela chave,
o mal estava aberto*
quando eles olharam;
muitos colares estavam ali,
que para esses jovens pareciam
serem feitos de ouro vermelho
e jóias.

Völundr disse:
22-"Venha os dois sozinhos,
venha outro dia;
eu darei a vocês esse ouro
de presente;
não diga as donzelas
nem aos homens do salão,
a nenhum homem,
que me procuraram*."

23-Cedo um homem
chamou o outro,
irmão, irmão:
"Vamos ver os anéis!"
Eles foram até o baú
perguntando pela chave,
o mal estava aberto,
quando eles olharam."

24.Ele cortou fora
a cabeça desses garotos
e debaixo da fuligem das tiras do fole
ele colocou os pés;
os crânios deles,
que estavam debaixo dos cabelos,
ele fixou prata, por fora,
e deu para Níðuðr.

25-E de seus olhos,
ele fabricou gemas preciosas
que ele deu sabiamente
para a esposa de Níðuðr,
mas dos dentes
desses dois
ele fabricou broches
e deu a Böðvildr.
26-Então Böðvildr
se gabou do anel que conseguiu
-- -- --
-- -- --
[para Völundr o trouxe*],
quando ela o quebrou:
"Eu não ouso dizer isso a ninguém
salvo apenas ti."

Völundr disse:
27-"Eu repararei de tal modo
o ouro quebrado
que teu pai
achará mais belo
e tua mãe
achará muito melhor
e tu mesmo
na mesma proporção."

28-Ele trouxe cerveja para ela,
porque ele era mais sábio,
assim que ela se sentou
ela caiu no sono.
"Agora eu terei a vingança
do meu sofrimento
sobre todos, menos uma,
na mulher perversa*."

29-"Eu desejo," disse Völundr,
"que eu fique sobre os meus pés
de quando Níðuðr
me privou."
Völundr rindo
se elevou ao céu*,
Böðvildr chorando
foi embora da ilha,
triste por seu amor partir
e a fúria de seu pai.

30-Lá fora estava à sábia
esposa de Níðuðr,
e ela veio andando
da extremidade do salão,
- mas ele estava no muro do salão
sentado descansando -:
"Tu estás acordado, Níðuðr,
senhor de Níara?"

Níðuðr disse:
31-"Eu sempre estou acordado,
sem vontade
eu durmo
desde a morte de meus filhos;
minha cabeça está gelada,
teus conselhos são frios para mim,
eu desejo isso agora,
que eu fale com Völundr."

32-"Diga-me, Völundr,
príncipe dos Álfar,
o que aconteceu
com meus saudáveis garotos."

Völundr disse:
33-"Tu deves jurar para mim
primeiro de tudo,
pela prancha do navio,
pela borda do escudo,
pelas costas do cavalo,
pela ponta da espada,
que tu não matarás
a esposa de Völundr*
nem da minha noiva
causará a morte,
embora eu tenho uma esposa
que tu conheces
e possui um bebê
lá dentro do salão."

34-"Vá para o forja,
que tu construíste,
ali tu encontrará o fole
coberto de sangue;
eu cortei em pedaços as cabeças
dos teus garotos,
e debaixo da fuligem das tiras do fole
eu coloquei os pés."

35-"Os crânios deles,
que estavam debaixo dos cabelos,
eu fixei prata, por fora,
e dei para Níðuðr;
e de seus olhos,
fabriquei gemas preciosas
que eu dei sabiamente
para a esposa de Níðuðr,"

36-"Mas dos dentes
desses dois
eu fabriquei broches
que eu dei a Böðvildr;
agora Böðvildr andara
com o aumento de uma criança*,
a única filha
que vocês tiveram."

Níðuðr disse:
37-"Tu nunca disseste uma palavra,
que mais me afligiu,
nem eu te desejaria Völundr,
pior injúria;
nenhum homem é tão alto,
que de seu cavalo possa ti pegar,
nem tão forte,
que possa ti atirar para baixo*,
onde tu distanciaste
no alto do céu."

38-Völundr rindo
se elevou ao céu,
mas Níðuðr depressivo
ficou então sentado depois disso.

Níðuðr disse:
39-"Levante-se, Þakkráðr,
o melhor dos meus servos,
peça a Böðvildr,
a donzela de alvas sobrancelhas,
de finas vestes para vir
falar com seu pai."

40-"Isso é verdade, Böðvildr,
o que me foi contado:
que tu e Völundr se sentastes
juntos na ilha?"

Böðvildr disse:
41-"Isso é verdade, Níðuðr,
o que te contaram:
sentei-me junto com Völundr,
na ilha
por um breve momento,
embora nunca devesse;
eu não soube como
me empenhar contra ele,
eu não fui capaz
de me empenhar contra ele."


Notas do Völundarkviða:

* Svíþjóð é a Suécia.
** Finnar são os Finlandeses.
*** Úlfdalir significa "Vale do Lobo".
**** Úlfsjár significa "Mar do Lobo".
***** Embora elas sejam Valquírias, seus nomes não aparecem na lista de Valkyrjur da Edda em Prosa de Snorri.
****** Valland significa "Terra da Morte" e (possivelmente) pode ser outro nome do Valhöll, como "Terra dos Estrangeiros".







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