Éden
Mitologia

Éden


 ۞ ADM Berserker 


Um jardim em uma terra chamada Éden (do hebraico Gan ‘Ēden), segundo o livro do Gênesis, foi o lugar onde viveram o primeiro homem, Adão, e sua companheira, Eva, depois de criados por Elohim. Esse jardim tornou-se parte essencial do mito da criação e da teodiceia das religiões abraâmicas, ou seja, o judaísmo, o cristianismo e o Islã. A palavra deriva do sumeriano Eden (planície), que geralmente era aplicada à planície da Baixa Mesopotâmia. 

A palavra Paraíso foi usada na forma grega, paradeisos, como tradução de "Éden" na versão Septuaginta (primeira tradução do hebraico para o grego) e hoje é considerada como sinônimo de Éden, mas sua etimologia é completamente diferente, pois deriva do avéstico pairidaêza (cercado, murado).  

Os rios do Éden 

O capítulo 2 do Gênesis relaciona a localização do Éden a quatro rios: Pisom (Pishon), Giom (Gihon), Tigre (Hiddekel) e Eufrates (Perat). Segundo a leitura usual, estes supostamente nasceriam da divisão de um só rio em quatro braços: 

E saía um rio do Éden para regar o jardim; e dali se dividia e se tornava em quatro braços. 
 O nome do primeiro é Pisom; este é o que rodeia toda a terra de Havilá, onde há ouro. 
 E o ouro dessa terra é bom; ali há o bdélio, e a pedra sardônica.  
E o nome do segundo rio é Giom; este é o que rodeia toda a terra de Cush.  
E o nome do terceiro rio é Tigre; este é o que vai para o lado oriental da Assíria; e o quarto rio é o Eufrates.(Bíblia Sagrada) 

O orientalista e intérprete bíblico Ephraim Avigdor Speiser propôs uma tradução diferente da passagem, segundo a qual se pode interpretar que os quatro rios confluem em uma mesma corrente.  

“... Um rio sobe no Éden para regar o jardim; de fora dali, forma quatro ramos separados...” 

Geograficamente, isso parece mais razoável. Que um rio tenha quatro afluentes principais é relativamente comum, ao passo que um rio se dividir em quatro braços é algo improvável quando fora de um delta - que não é o caso, visto que os quatro rios são descritos como extensos, passando por diferentes países. Quanto ao Tigre e ao Eufrates, parece não haver como duvidar de que são os rios conhecidos ainda hoje pelos mesmos nomes. Obviamente, não fluem como dois braços de um mesmo rio, mas suas nascentes, na Anatólia Oriental, são relativamente próximas entre si. 

Quanto a os demais rios, o Pisom é o mais misterioso. O nome Havilá, dado a região a qual ele rodeia é mencionado em outras partes do Antigo Testamento, mas sem chegar a ser inequivocamente identificada e sem se deixar claro se todas as menções se referem à mesma terra. O Giom é geralmente identificado como sendo o rio Nilo, visto que, na Bíblia, Cush normalmente se refere ao atual norte do Sudão. A tradição da Etiópia, que identifica seu próprio país como sendo Cush, identifica o Giom como o Nilo Azul, cuja junção com o Nilo Branco forma o grande Nilo. Isto resulta, porém, em um paradoxo geográfico, tornando impossível determinar a exata localização do Éden com base na localização de seus rios, pois ainda que os antigos hebreus não soubessem as localizações das nascentes do Nilo, era óbvio que não estavam em nenhuma região próxima ao Tigre e ao Eufrates. 

O Éden no Islã 


Os muçulmanos acreditaram que o Éden não se localiza neste mundo, mas sim no Céu. Outra diferença importante é que em sua narrativa da Queda do Homem, é Adão e não Eva que é seduzido. Sedução essa, feita pelo Diabo em pessoa e não uma serpente. Porem ambos são considerados igualmente responsáveis pela desobediência. Também ao contrário dos cristãos, supõe-se que Adão e Eva estavam vestidos no Paraíso e só depois de comer do fruto proibido ficaram nus, além de sujeitos a passar fome, sede e calor. 

Havíamos firmado o pacto com Adão, porém, te esqueceu-se dele; e não vimos nele firme resolução. E quando dissemos aos anjos: Prostrai-vos ante Adão! Todos se prostraram menos Iblis, que se negou. E então dissemos: Ó Adão, em verdade, este é tanto teu inimigo como de tua companheira! Que não cause a vossa expulsão do Paraíso, porque serás desventurado. Em verdade, no Paraíso não sofrerás fome, nem estarás afeito à nudez. E não padecerás de sede ou calor. 

Porém, Shaitan sussurrou-lhe, dizendo: Ó Adão, queres que te indique a árvore da imortalidade e um reino imperecível? E ambos comeram da árvore, e suas vergonhas foram-lhes manifestadas, e puseram-se a cobrir os seus corpos com folhas de plantas do Paraíso. 

Adão desobedeceu ao seu Senhor e foi seduzido. Mas logo o seu Senhor o elegeu, absolvendo-o e encaminhando-o. Disse: Descei ambos do Paraíso! Sereis inimigos uns dos outros. Porém, logo vos chegará a Minha orientação e quem seguir a Minha orientação, jamais se desviará, nem será desventurado. Em troca, quem desdenhar a Minha Mensagem, levará uma mísera vida, e cego, congregá-lo-emos no Dia da Ressurreição. Dirá: ‘Ó Senhor meu, por que me congregastes cego, quando eu tinha antes uma boa visão?’ E Alá lhe dirá: ‘Isto é porque te chegaram os Nossos versículos e tu os esqueceste; a mesma maneira serás hoje esquecido! E assim castigaremos quem se exceder e não crer nos versículos do seu Senhor. Sabei que o castigo da outra vida será mais rigoroso, e mais persistente ainda.(Alcorão) 

Depois de ser expulso do Paraíso, Adão desceu a Terra e foi parar em Meca, onde chorou por 40 dias, mas isso nunca foi visto como indicação de que o Éden se localizasse em suas proximidades. 

As árvores do Éden  


No centro do Jardim do Éden, haviam duas árvores especiais e particularmente importantes: 

“E plantou Elohim um jardim no Éden, do lado oriental; e pôs ali o homem que tinha formado. E Elohim fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para comida; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal.” (Bíblia Sagrada) 

A expressão "Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal" (do hebraico `Etz haDa`ath Towb Ra`) também pode ser lida como "Árvore de Todo o Conhecimento". A "Árvore da Vida" (do hebraico Etz haChayim) é aparentemente uma árvore cujos frutos dariam a imortalidade. 

Depois da descrição dos rios, Deus proíbe os humanos de comerem do fruto do conhecimento: 

“E tomou Elohim o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar. 
E ordenou Elohim ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente. 
Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” (Bíblia Sagrada) 

Porém, em muito pouco tempo Eva foi enganada e seduzida pela serpente, assim desobedecendo à ordem: 

“Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais que Elohim tinha feito. E esta disse à mulher: Não comereis de toda a árvore do jardim... É assim que Elohim disse? 
E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Elohim para não comermos dele, nem mesmo nele tocaremos para não morrermos. 

Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Elohim sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deuses, sabendo o bem e o mal. 

E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela. 

Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais. 

E ouviram a voz de Elohim, que passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da presença de Elohim, entre as árvores do jardim. 
E chamou Elohim a Adão, e disse-lhe: Onde estás? 

E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me. 
E Elohim disse: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses? 

Então disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi. 
E disse Elohim à mulher: Por que fizeste isto? E disse a mulher: A serpente me enganou, e eu comi. 

Então Elohim disse à serpente: Porquanto fizeste isto, maldita serás mais que toda a fera, e mais que todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida. 

E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a semente dela; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. 

E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua conceição; com dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará. 

E a Adão disse: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei não comer, maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida. 

Espinhos, e cardos também, te produzirá; e comerás a erva do campo. 
No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás. 

E chamou Adão o nome de sua mulher Eva; porquanto era a mãe de todos os viventes. 
E fez Elohim a Adão e Eva túnicas de peles, e os vestiu. 

Então disse Elohim: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente. 
Elohim, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado. 

E havendo lançado fora o homem, pôs querubins ao oriente do jardim do Éden, e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida.”



Ningishzida 

Tudo indica que a árvore do conhecimento, assim como a árvore da vida, são símbolos, provavelmente resultantes de uma reinterpretação hebraica de um antigo mito sumeriano (anterior a 2100 a.C.) que representava o eixo em torno do qual parece girar o universo como uma árvore com uma serpente (a constelação da Hidra) enroscada no tronco, identificada com o deus da cura e da vida Ningishzida. O nome significa "guardião da boa árvore", que tanto pode ser a árvore da vida quanto o eixo da ordem do universo. 


Segundo um mito sumério, o pescador Adapa, devoto do deus Enki, quebrou as asas do vento sul e foi convocado pelos deuses a se explicar. Seu deus lhe preveniu, porém, para não comer o que lhe oferecessem. O deus supremo An, impressionado pela sabedoria de Adapa, diz a Ningishzida para lhe oferecer "o pão e a água da vida", mas o mortal se recusa, perde a oportunidade de se tornar um deus e é expulso do paraíso. É uma história análoga à do Gênesis, embora sua moral seja oposta.





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